Apenas 1,9%? Uma análise sobre dados de orientação sexual divulgados pelo IBGE
Atualizado: 8 de nov. de 2022
Por Ana Hining, Felipe Batistão, Felipe Demetri e Tamiris Hilário
A Universidade Estadual Júlio de Mesquita Filho (UNESP) e a Universidade de São Paulo (USP) acabam de publicar um levantamento inédito na revista Nature Scientific Reports apontando percentual de 12% de pessoas adultas se autodeclarando como assexuais, lésbicas, gays, bissexuais e transgêneras, distanciando-se dos dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística divulgados em maio de 2022. Na ocasião, o IBGE divulgou de forma inédita dados sobre a população LGBT no Brasil, cujos números surpreenderam, especialmente entidades e pesquisadores, pela baixa representatividade dessa população.

Pensando nisso, nós, da Diversitera, comprometidos com dados, inclusão e diversidade, decidimos escrever este artigo para debater o tema, trazer alguns questionamentos, ponderações e talvez apontar alguns possíveis caminhos. É importante ter em mente, neste debate, o contexto em que essa publicação se dá: o de marginalização e estigmatização da população LGBTQIAP+, cujo apagão de dados é só mais um dos sintomas da exclusão que perpassa a vida de muitas dessas pessoas. Ainda não temos dados censitários precisos e conclusivos sobre este grupo, tampouco dados sobre sua condição socioeconômica.
A pesquisa realizada pelo IBGE foi feita através da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS), e foi conduzida em 2019 com uma amostragem de 108 mil domicílios. É a primeira vez que o Instituto pesquisa a demografia da população LGBT dessa forma, tendo se restringido no passado a pesquisar domicílios com casais homoafetivos.
Segundo o estudo, a população de gays, lésbicas, bissexuais e pessoas que declararam possuir outra orientação não presente na lista somam 2,9 milhões de pessoas, o equivalente a 1,9% da população acima de 18 anos do país. O número encontrado pelo órgão diverge de outros que até então eram usados como referência, por exemplo aqueles divulgados pelo Instituto Ipsos no qual gays, lésbicas, bissexuais e outras orientações são 10% do total de participantes. Em outra estimativa, levantada pela ABGLT (Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Intersexos) esse mesmo público representa 11%.
Por ser bastante divergente das demais estimativas utilizadas como base até então, o resultado divulgado pelo IBGE foi fortemente criticado por organizações e indivíduos envolvidos com o movimento LGBTQIAP+, que entendem que o resultado publicado estaria bastante aquém da realidade.
Cabe ressaltar que o próprio IBGE classificou as estatísticas como “experimentais”:
Os resultados ora divulgados estão sendo apresentados como estatísticas experimentais, as quais são desenvolvidas e publicadas visando envolver os usuários e as partes interessadas para avaliação de sua relevância e qualidade. Nesse caso, os dados referentes à orientação sexual encontram-se ainda sob avaliação por não terem atingido um grau completo de maturidade em termos de harmonização, cobertura ou metodologia, sendo, portanto, um primeiro exercício para a captação do tema em questão (IBGE, 2022, p. 4)