Raça e Etnia | Oriente Médio pode ser muita coisa

Tamiris Diversitera • Feb 26, 2024

Inclusive lugar de diferenças

RAÇA E ETNIA NÃO É SÓ SOBRE PESSOAS NEGRAS
Gerir a diversidade cultural é um dos grandes desafios destes tempos! O Brasil é um berço multicultural onde populações de diferentes etnias se abrigam, o que significa que várias concepções de mundo se reúnem em um só lugar. Apesar disso, por vezes, sabemos muito pouco sobre os grupos étnico-raciais aqui sediados e os colocamos todos na mesma caixa, como se compartilhassem a mesma cultura e hábitos, as mesmas experiências históricas e características sociopolíticas. Quando falamos do tema, também costumamos observar, por razões históricas óbvias, apenas as populações indígenas e negras. Não é por aí. A exemplo disso, temos muitos migrantes do Oriente Médio, que podem ser muito diferentes entre si. Haja vista que a região e (suas áreas de influência) compreende parte da Ásia, da Europa e da África, sendo, portanto, uma área complexa e multicultural.

DADOS & DADOS & DADOS 
> 12 milhões de árabes e descendentes vivem no Brasil (Câmara de Comércio Árabe Brasileira)
> Destes: 27% libaneses; 13% sírios; 6% marroquinos; 6% sauditas; 5% egípcios; 5% palestinos; 3% argelinos, 3% jordanianos, 3% líbios, 3% somalis, 1% barenitas, 1% cataris; 25% não identificaram uma nacionalidade árabe específica.
> A comunidade judaico-brasileira é a segunda maior e a mais antiga da América Latina.
> Estimam-se mais de 120 mil judeus residindo no Brasil.
> O IBGE aponta quase 30 mil islâmicos no Brasil, enquanto a Federação Islâmica Brasileira, 1,5 milhão.

LEMBRETE: 
Raça - Construção social, sem relevância biológica, que diz respeito aos atributos fenotípicos (físicos) de alguém.
Etnia - Conceito que agrupa diversos fatores identitários (parentesco, religião, língua, tradições, território, nacionalidade etc., além da aparência física) de um indivíduo.

RETRATO ÉTNICO-RACIAL DO ORIENTE MÉDIO
Afeganistão, Arábia Saudita, Bahrein, Qatar, Chipre, Egito, Emirados Árabes Unidos, Iêmen, Israel, Irã, Iraque, Jordânia, Kuwait, Líbano, Omã, Palestina, Síria, Turquia, são os territórios que integram o Oriente Médio, porém, temos também outras porções regionais fortemente influenciadas por ele do ponto de vista social, cultural, econômico e político, como Marrocos, Argélia, Tunísia e Líbia.

> Assim como no Brasil, nesse caldeirão de possibilidades muitas etnias coabitam: 
Africanos (de diferentes origens), Armênios, Circassianos, Judeus, Turcomanos, Baluchis, Luros, Curdos, Gilakis, Mazandarani, Azerbaijanos, Persas, Beduínos, Berberes, Camíticos, Orientais Egípcios, Afro-Árabes, Árabes, Afro-Asiáticos, Indianos, Paquistaneses, Bengalis, Europeus, entre outros (Atlas do Oriente Médio)
> Vale reforçar: 
Israel, Turquia, Chipre e Irã são países ditos não árabes, já que o Oriente Médio conta também com turcos, persas, judeus e curdos.
> Intenso fluxo migratório e movimentos expansionistas:
A história nos dá materialidade para compreender que a região, por diferentes razões geopolíticas, foi ocupada por povos de origens distintas, daí sua pluralidade difícil de mapear

TÁ, MAS COMO ORGANIZAMOS TUDO ISSO?
De modo geral, as características distintivas entre as populações que residem no Oriente Médio e zonas de influência mais utilizadas são:

> 1# O idioma: os grupos étnicos podem ou não falar árabe, popularizado por ser o idioma do Corão (livro sagrado muçulmano) 
Principais grupos linguísticos: árabe, hebraico e persa; 
Minorias linguísticas significativas: beja, curdo, tamazirt, turco.

> 2# A religião: berço de pelo menos três sistemas de crença de importância global, o Oriente Médio não é apenas muçulmano
Principais sistemas de crença: judaísmo, cristianismo, islamismo

Mesmo dentro de cada grupo religioso, há subdivisões com diferenças expressivas, como muçulmanos sunitas e xiitas e judeus ortodoxos, conservadores, reformistas, reconstrucionistas e humanísticos.

Atributos físicos isolados podem ser absolutamente imprecisos quanto estamos falando de grupos etnico-raciais complexos

MUÇULMANO E ÁRABE NÃO SÃO SINÔNIMOS!
Ser árabe refere-se ao grupo que habita o Oriente Médio e a África Setentrional (e seus descendentes), enquanto ser muçulmano implica em ser praticante do islamismo. É uma condição étnica, não exclusivamente racial. Na raiz, os árabes são parte do grupo 'semita' que compreende também hebreus, assírios, aramaicos e fenícios. Muitos árabes são muçulmanos, porém nem todo muçulmano é árabe! Na Índia e na Indonésia, por exemplo, o número de fiéis praticantes do Islã é considerável. Generalizar a palavra árabe pode nos levar a equívocos. É quase como usar a palavra 'latino' para unificar a América Latina, quando há diferenças pujantes entre os povos que a habitam e os tornam únicos, apesar de pontos em comum.

IMPORTANTE: Dentro da religião islâmica temos ainda a subdivisão sunitas (têm uma interpretação mais flexível do Corão, da Sharia [a Lei Islâmica], e do califado [a sucessão de Maomé]) e xiitas (têm uma postura mais conservadora em relação aos tópicos anteriores). Portanto, tampouco os muçulmanos são todos iguais!

NÃO EXISTE SÓ UM TIPO DE JUDEU E NEM SÓ JUDEUS EM ISRAEL!
Divididos em etnias como ashkenazi (Europa Central e Oriental), sefarditas (Península Ibérica e Norte da África) e mizrahim (Oriente Médio e Norte da África), os judeus possuem distintas origens geográficas e culturais, influenciando suas tradições de diferentes maneiras. Os movimentos migratórios e de dominação também os fizeram ao longo do tempo se tornarem fenotipicamente plurais - esqueçam a ideia de judeus exclusivamente caucasianos! As línguas judaicas, incluindo hebraico, ídiche e ladino, também refletem essa diversidade. Judeus costumam ainda ser confundidos com israelitas e hebreus, porém historicamente não são exatamente sinônimos (Ex. um israelita pode ser hebreu, mas não judeu; um hebreu pode não ser nem israelita nem judeu). 

ONDE TODO MUNDO SE ENCONTRA?
Segundo estudos da Academia Nacional de Ciências estadunidense, árabes e judeus têm origem genética comum. No 'Proceedings of the National Academy of Sciences', os judeus são irmãos genéticos de palestinos, sírios e libaneses com traços compartilhados de milhares de anos. Além da mencionada origem semita, outro ponto de parentesco é a língua, já que o árabe e o hebraico pertencem a mesma família. Do ponto de vista religioso, há uma mesma figura de importância no judaísmo, no cristianismo e no islamismo: Abraão. (Folha)

ONDE TODO MUNDO DIVERGE?
São muitos os pontos de divergência entre os diferentes Estados do Oriente Médio e defini-los não é uma tarefa simples ou fácil. Dois deles, relacionados à raça-etnia, são território e religião, definidores das muitas identidades ali sediadas. Outra característica importante é que as disputas e confrontos também têm longevidade histórica, colocando como objetos das discordâncias elementos do passado em torno dos quais as narrativas se contradizem. O resultado disso é um histórico de violência que reforça estereótipos e vitima civis inocentes.

O PERIGO DE UMA HISTÓRIA ÚNICA: ORIENTE COMO UMA COISA SÓ 
As disputas em razão de elementos identitários, se não forem geridas, ou se forem mal geridas, podem se tornar rapidamente uma das maiores fontes de instabilidade dentro e entre os Estados. Também, nas organizações, que, afinal, são parte deles. São elas que nos induzem às esteriotipias, microagressões, e violências contra grupos étnicos sobre os quais somos ignorantes. Haja vista que muçulmanos e árabes estão entre as principais vítimas de intolerância religiosa no Brasil. Judeus, por sua vez, recorrentemente são definidos por estereótipos degradantes – quem nunca os chamou de mão de vaca, hum? Tomando de empréstimo as palavras da escritora Chimamanda Adichie, a mensagem principal que fica é: uma narrativa única sobre algo ou alguém pode ser perigosa. Quanto maior for a nossa compreensão a respeito das pluralidades humanas e do reconhecimento de que nossas identidades se sobrepõem e interagem, mais rapidamente abandonaremos ideias que homogeneizam o outro e violam suas características únicas. Mais próximos estaremos do respeito à diversidade e de uma cultura de paz.

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